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Em busca da equidade

sexta-feira, 10 de julho de 2015

MEETIDOS - Livro aborda Performances e Identidades Homossexuais de Gays e Lésbicas

O olhar analítico do pesquisador Mário Fellipe vai buscar os trânsitos que marcam no circuito de diversão da cidade de Fortaleza, outro circuito de diversão de homens gays, no qual vai eleger um desses espaços, caracterizado por ser localizado no centro de uma região de restaurantes e bares sofisticados, que se tornou referência de homossexuais, gays e lésbicas, considerados mais “discretos” e chiques, articulando vários autores para dar conta de um processo nada convencional, que perfaz espacialidade em territórios, sujeitos em práticas identitárias, corpos móveis, que rompem impedimentos ao criarem espaços próprios de vivências de prazer e de diversão, mas que também constroem  regulamentos de conduta, práticas e técnicas, lugares, posições e aparatos que constituem regimes de subjetivação e de gerência de práticas.”


Do prefácio de Maria Dolores de Brito Mota
MEETIDOS – o Livro
Livro terá lançamento dia 31 de Julho de 2015, às 18h, no Auditório do Comitê de Imprensa da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.
Leia e conheço um pouco do autor e obra: O monta/desmonta de corpos, performances e identidades gays na boate MEET – MUSIC & LOUNGE

ORELHA do livro

Ensaiando uma abordagem etnográfica dos modos de interação de homens gays no espaço de uma boate em Fortaleza, voltada a estratos sociais mais abastados e situada numa área nobre da cidade, o presente trabalho desvela sistemas de classificação e distinção operados pelos sujeitos naquele território. Tomando como aposta analítica a profunda relação entre espaço(s) e subjetividade(s), o autor pretende cartografar identidades sociais e sexuais, performances de gênero e estratégias de interação que são mobilizadas a partir de uma ideia de pertença ao espaço da boate.  Destacam-se entre essas estratégias, a fabricação de corpos “sarados”, a montagem de vestuário que expresse símbolos de status, modelos de masculinidade negociados na curtição da festa e na paquera e a inserção em redes de relacionamentos que agreguem prestígio intragrupal. Ao propor um olhar sobre práticas de lazer/prazer do “circuito gls” na metrópole cearense, o livro se configura como uma importante contribuição para a compreensão de nossa paisagem urbana e de nossa história presente.

Cristian S. Paiva.
Coordenador do Núcleo de Pesquisas sobre Sexualidade, Gênero e Subjetividade (NUSS) e Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC.

O AUTOR
Mário Fellipe Fernandes Vieira Vasconcelos é pós-graduando pelo Mestrado em Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) com bolsa CNPQ. Graduou-se em Design de Moda pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Desenvolve estudos na área de Corpo, Gênero e Identidade. Tem experiência na área de Sociologia da Moda, História Cultural e Design. 



 

PREFÁCIO


[...] há impossibilidade de ser além do que se é - no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio, sou mais do que eu, quase normalmente tenho um corpo e tudo que eu fizer é continuação de meu começo... a única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais... (Clarice Lispector)
  
Este livro nos fala de quanto somos incertos, inacabados e desejantes.  Mário Fellipe, percorre cenários noturnos da cidade de Fortaleza, onde sujeitos se arriscam em caminhos para e por lugares em que encontram olhares, performances, imagens, sensações, sons, sabores, movimentos, afetos vivenciando processos de subjetivação que, ao tempo em que acionam identificações e desenham identidades, os colocam os em uma permanente instabilidade criativa, de produção de corpos e de discursos que possibilitam à experiência de um si e a diversidade de devir.
Assim, o autor vai buscar os trânsitos que marcam no circuito de diversão da cidade de Fortaleza,  outro circuito de diversão de  homens gays, no qual vai eleger um desses espaços, caracterizado por ser localizado no centro de uma região de restaurantes e bares sofisticados, que se tornou referência de homossexuais, gays e lésbicas,  considerados mais “discretos” e chiques.  Uma boate, um território que não se restringe apenas ao espaço construído, aquele que fica no interior das paredes, mas que começa na fila que se forma para entrar e segue por outros lugares em festas itinerantes, que formam as primeiras vivências desse grupo que acabou por construir um espaço fixo, um ponto de convergência e de experimentações.
Articulando vários autores para dar conta de um processo nada convencional, que perfaz espacialidade em territórios, sujeitos em práticas identitárias, corpos móveis, que  rompem impedimentos ao criarem espaços próprios de vivências de prazer e de diversão, mas que também constroem  regulamentos de conduta, práticas e técnicas, lugares, posições e aparatos que constituem regimes de subjetivação e de gerência de práticas.
Entre a história, a sociologia e a moda, o autor deste estudo realizou uma incursão etnográfica na boate estudada, como pesquisador e como frequentador, conversou, ouviu, viu, entrevistou.  Com sua investigação mostrou as paisagens de um espaço singular, que se iniciou em festas que se deslocavam pela cidade, realizando-se em lugares diversos, em errâncias que levavam a encontros de quem buscava diferenciações e identificações.
Dentro da boate, diferentes ambientes formam microterritótios e fazem emergir uma  “natureza reguladora que se encontra diluída no interior da boate, objetivada em espaços da boate bem como nos espelhos que personificam ali o olho panóptico”, como  afirma Mário Fellipe.  Mas, os frequentadores não se resumem apenas aos “meetidos” que encarnam a identidade da boate, outros gays  não tão discretos e não tão “meetidos” ocupam esse território estabelecendo diversidade e estranhamento  que “dá passagem a outras performances”, sussurra o autor.
O corpo é a encarnação dos sujeitos e este se faz de trejeitos e de vestimentas, cobrindo-se de signos que vão compor a aparência dos “meetidos”, elegantemente bem comportados e referenciados num modelo dominante de masculinidade. O olhar então se torna um mecanismo regulador, disciplinador, voyeurismo de si e dos outros, que os espelhos espalhados em várias paredes projetam seus reflexos cruzados. Corpo e moda estão presentes na performatividade de uma identidade, não apenas como modeladores de imagem, mas como agenciadores de diversidades identitárias, pois não há fixidez na produção de si.
Com essas questões, o texto nos faz convergir para a existência de negociações entre uma identidade predominante e outras identidades, ou multidentidades singulares que se fazem ali presentes entre fronteiras e estranhamentos, incitando plasticidades que nos mostram que desfazer corpos é refazer corpos, desconstruir identidades é inventar identidades, territorializar é reterritorializar...
Convido todos e todas a irem com Mário Fellipe a uma noite na boate e, através de seus olhares, sensibilidades e reflexões, a presenciarem uma boate na cidade de Fortaleza, “como um território em que emergem dinâmicas e jogos simbólicos que tem nos movimentos do próprio território, dos corpos e das identidades que ali se agenciam um de seus meios de produção e manutenção de uma determinada identidade gay”, como o pesquisador nos revela.

 Maria Dolores de Brito Mota